quarta-feira, 6 de julho de 2011

Poemas inconjuntos

Falas de civilizaçao e de nao dever ser, ou de nao dever ser assim.
Dizes que todos sofrem ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas como tu queres seriam so como tu queres.
Ai de ti e de todos os que levam a vida a querer inventar a maquina de fazer felicidade.

Alberto Caeiro (1913-1915)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

De repente dei por mim a viver no mundo a parte. 8 meses passaram desde o primeiro encontro com a paisagem, a 1 minuto começou a observação da realidade. 
Eu sentada no banco da varanda, em frente duas pessoas comem com as mãos as 22 e 30h da noite, mais abaixo alguém lava os pratos e ainda mais abaixo duas pessoas conversam numa fonte. De que tanto falam elas? Parecem sempre os mesmos todas as noites, em que esta a pensar aquele senhor que acabou de passar a fonte? Nos homens que conversam, pelos quais acabou de passar? Sera que chegou mesmo a reparar neles ou também vai precisar de mais 8 meses para realmente começar a ver?
Abriu a janela, saiu para a varanda, reparou que eu o observava... Voltou a entrar, sentou-se longe do alcance dos meus olhos mas manteve a janela aberta, não fechou a janela que me fez começar a ver. Gostava que aquela nuvem em cima de mim visse o que eu estou a ver... Ou nunca vai acontecer ou sempre aconteceu...
Não e produtivo viver no mundo oposto, a não ser que estejas comigo. Mas tu vais estar sempre comigo, devemos continuar isolados ou juntar-mo-nos a eles, aqueles que vêm? Aqueles que são vistos?
Agora estão os dois a janela e olham para mim. De que tanto falam eles? Sabem que estou a escrever. Sabem que estou a escrever sobre eles? Claro que não... Quem e visto não vê. Haverá alguém que me vê? Não sei se tu me vês, não quero saber, prefiro que isso continue sempre um mistério para mim, pois podes não me conseguir ver...

Inconjuntos

Em perfeito equilibrio com o novo, a abjuraçao da mais natural das origens, em associaçao com o ferro, em recusa com o nu.
Folhas, pés, cadeira, osso e não quero saber de mais nada.
Vamos ver um filme e matar um grilo.
Comprar uma caneta e queimar um livro.
Ter um filho e matar um pai.
A putrefacção do que me atinge, a escala que alcançou, a vulnerabilidade e insignificância a que eu, enquanto tu, enquanto grilo me encontro.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Fragmentos líricos

"Entretanto, a nossa situação foi estabilizando economicamente e decidimos dar uma irmã à Marlene, uma vez que a nossa família era realmente reduzida e não queríamos que, mais tarde, a Marlene nos acusasse de egoísmo ou ela própria se tornasse egoísta.
E, assim, a 20 de Agosto de 1993 nasce a esperada Angela, foi mais uma alegria para a família e talvez mais ainda para a Marlene, que quase sufocava a irmã com tantas carícias e atenções.
Para se fazer notar e dizer que estava cá e contassem com ela, a querida Angela, decidiu não nos deixar dormir mais do que quatro horas por noite, já dormíamos em pé. Na primeira noite que ela finalmente dormiu, ficámos com medo que tivesse adoecido. A Angela só não adoeceu como passou a dormir com a regularidade própria da idade, o que para nós foi uma bênção."
                                                                                                                                            JF