domingo, 29 de janeiro de 2012

Vens-te do ar

Pelo caminho da repugnância geral e a generalização da repugnância total.
Passear pelos olhos da infância e recordar o sabor da simplicidade inerente aquelas casas adquiriu em mim a importância vital do ar. Do ar que é simples, do ar que é complexo, do ar que é inextinguivel, incompreensivel. Com capacidades de DoAr o extinto porque Do Ar te vens, te vens doar como incorporal.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Poemas inconjuntos

Falas de civilizaçao e de nao dever ser, ou de nao dever ser assim.
Dizes que todos sofrem ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas como tu queres seriam so como tu queres.
Ai de ti e de todos os que levam a vida a querer inventar a maquina de fazer felicidade.

Alberto Caeiro (1913-1915)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

De repente dei por mim a viver no mundo a parte. 8 meses passaram desde o primeiro encontro com a paisagem, a 1 minuto começou a observação da realidade. 
Eu sentada no banco da varanda, em frente duas pessoas comem com as mãos as 22 e 30h da noite, mais abaixo alguém lava os pratos e ainda mais abaixo duas pessoas conversam numa fonte. De que tanto falam elas? Parecem sempre os mesmos todas as noites, em que esta a pensar aquele senhor que acabou de passar a fonte? Nos homens que conversam, pelos quais acabou de passar? Sera que chegou mesmo a reparar neles ou também vai precisar de mais 8 meses para realmente começar a ver?
Abriu a janela, saiu para a varanda, reparou que eu o observava... Voltou a entrar, sentou-se longe do alcance dos meus olhos mas manteve a janela aberta, não fechou a janela que me fez começar a ver. Gostava que aquela nuvem em cima de mim visse o que eu estou a ver... Ou nunca vai acontecer ou sempre aconteceu...
Não e produtivo viver no mundo oposto, a não ser que estejas comigo. Mas tu vais estar sempre comigo, devemos continuar isolados ou juntar-mo-nos a eles, aqueles que vêm? Aqueles que são vistos?
Agora estão os dois a janela e olham para mim. De que tanto falam eles? Sabem que estou a escrever. Sabem que estou a escrever sobre eles? Claro que não... Quem e visto não vê. Haverá alguém que me vê? Não sei se tu me vês, não quero saber, prefiro que isso continue sempre um mistério para mim, pois podes não me conseguir ver...

Inconjuntos

Em perfeito equilibrio com o novo, a abjuraçao da mais natural das origens, em associaçao com o ferro, em recusa com o nu.
Folhas, pés, cadeira, osso e não quero saber de mais nada.
Vamos ver um filme e matar um grilo.
Comprar uma caneta e queimar um livro.
Ter um filho e matar um pai.
A putrefacção do que me atinge, a escala que alcançou, a vulnerabilidade e insignificância a que eu, enquanto tu, enquanto grilo me encontro.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Fragmentos líricos

"Entretanto, a nossa situação foi estabilizando economicamente e decidimos dar uma irmã à Marlene, uma vez que a nossa família era realmente reduzida e não queríamos que, mais tarde, a Marlene nos acusasse de egoísmo ou ela própria se tornasse egoísta.
E, assim, a 20 de Agosto de 1993 nasce a esperada Angela, foi mais uma alegria para a família e talvez mais ainda para a Marlene, que quase sufocava a irmã com tantas carícias e atenções.
Para se fazer notar e dizer que estava cá e contassem com ela, a querida Angela, decidiu não nos deixar dormir mais do que quatro horas por noite, já dormíamos em pé. Na primeira noite que ela finalmente dormiu, ficámos com medo que tivesse adoecido. A Angela só não adoeceu como passou a dormir com a regularidade própria da idade, o que para nós foi uma bênção."
                                                                                                                                            JF


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um berlinde e um pesoço

A mangueira deu-lhe a volta à cara, prolongou-se para o pescoço e lá ficou, pensei inicialmente em colocá-la em cima dos ombros, enfim, aliviar o peso, mas depois tirava todo o objectivo do próprio peso, o circulo vicioso que é o preconceito, é nisso que eu me vou basear. No entanto queria torná-lo mais evidente, queria que percebessem que dentro daquele circulo algo ficava a girar, por isso inseri uma bola na mangueira, assim sai da cabeça a grande velocidade como todos os pensamentos e quando chega à garganta não pode sair, não por ela não querer mas por não poder, assim que a bola entra no círculo já não sai. É aí que entra o simbolismo do labirinto, podemos então considerar o pensamento de um mulher barroca um Minotauro e a bola esse pensamento? Sim, chamemos-lhe assim, o Minotauro tem de se prender. Criemos então esse labirinto mas vamos dar-lhe um centro, uma hipótese de fuga, não será isso pior que mantê-lo num circulo fechado, dar-lhe esperanças de alcançar algo quase impossível? Acho que é pior saber que há uma fuga possível, mesmo que não a encontremos por isso não vamos desistir de a procurar, se por outro lado não houver fuga, descansamos e arranjamos algo útil para fazer... Sei lá, vamos ler um livro. Um Minotauro pode ler um livro? Tenho que tentar não me dispersar, estava a dizer que  o método conceptual que é o pensamento da mulher é como um Minotauro, não em termos de pensamento claro, mas pelo facto de ambos serem colocados num labirinto, um merecedor do seu castigo outro apenas uma mulher, uma mulher que pensa o que não deve.
Pareceu-me uma maneira muito literal de colocar um tipo de questão tão batalhado. Bah, não me apetece fingir mais que me interesso, afinal, para quem é que não me interesso?

domingo, 14 de novembro de 2010

Asco

Ontem mataram só mais um bocadinho.  Parece que fomos sempre três na mesma cama, e foi tão bom saber isso, saber que o que perdi nunca prestava, mas por outro lado se prestasse não o teria perdido. Ou perderia eventualmente? No entanto, por muito bom que o fosse ouvir não consegui repelir o desejo de te enfiar o carregador na boca com muito força. Só precisava de tornar oficial uma malevolência inevitável, o ódio é muito mais espontâneo que o amor, e só precisava de saber que depois de tudo o que abdiquei permaneceria alguma espécie de ligação, e queria mesmo que o ódio fosse essa ligação. Mas é impossível, tu és incapaz de amar logo és incapaz de odiar.
Não sentes nem um pouco de nojo nas tuas actuações? A tua vida não passa de uma fusão de ilusões, consegues manipular tão bem essas fantasias que só aos teus olhos, e aos que fazem arte do teu pequeno jogo és perfeito, o que é realmente triste é que tu és o único que vai ficar até ao fim do acto, e existem uma quantidade desmedida de pessoas que saem como eu fiquei.
Mas é um bom espectáculo para se ver de fora e aconselho a todos portanto acho que estás a fazer um bom trabalho.

domingo, 31 de outubro de 2010

A miséria do outro lado das pálpebras

Em todos os copos existe pelo menos um bocadinho de cuspo e nós sabemos disso mas mesmo assim continuamos a usa-los, o ser humano é realmente doentio, por falar nisso, hoje é Halloween.. Prosseguindo, eu adoro falar com pessoas que sei que não me estão a ouvir, ou melhor, ouvem-me mas não se interessam muito pelo que eu lhes digo, e isso não me podia fazer mais feliz. Estamos mesmo ali, naquele intermédio em que se pode dizer tudo, mas não exagerar porque podem-se fartar por isso lança-se uma pequena mentira de vez em quando só para manter a chama do tema. O problema é que essas pessoas (vamos chamar-lhes Hugos) querem sempre algo em troca, se eles nos ouvem nós temos de os ouvir, ahhh, não há nada pior.. Naquele dia em que todos os Hugos se identificaram eu estava lá, confesso, sou bastante Hugo para várias pessoas, mas não é assim tão insensível da minha parte, eu tenho sempre o cuidado de Hugar com outros Hugos.
É que fazêmo-lo até as unhas ficarem brancas, é demasiado tempo e acabam por nos cair as pálpebras.. De qualquer das formas para que é que precisamos delas, para ter a certeza de que eles nos vêem, para os podermos ver a eles, para não vermos alguma coisa? Pó é tudo o que eles não são e se os ouvirmos eles caem, assim, como é que é suposto os vermos? Nós escondemo-nos tão bem que nem dão por nós. Cama, chão, pé, suor, cama, braço, sal, cama, sempre a mesma rotina e aqueles malditos Hugos não os vêem. Cortem-lhes os pés se for preciso, identifique-mo-los então assim, estáticos, ridículos. Não lhes vai fazer falta a miséria do outro lado das pálpebras, a luxúria fecha essas peles mas deixemos então os outros cortá-las. Nunca antes me tinha apercebido do outro lado das pálpebras e foi horrível, é tão sóbrio, tão real, .. por isso deixei a luxúria fechar-me os olhos outra vez, chão, pé, suor, cama, braço, sal, cama... É muito melhor assim.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

JOANA

Este fim de semana estava a caminhar para casa e de repente, e eu juro que isto é verdade, um sapo que montava um cavalo veio ter comigo e disse-me que o mundo estava estranho. E de repente... BUM.. A visão dele passou para mim e não consegui mais ver essa noite claramente, a partir dai eu percebi que ele tinha razão, eu era mesmo a Hanna Montana, e isso não é normal, e sim, todas as tampas de sanitas falam connosco quando estamos lá com a cabeça enfiada. Não há nada pior ter a cabeça enfiada dentro da sanita e o chão a gritar-nos aos ouvidos para o violarmos... ??... Porque? A sério, aquelas estradas não fazem sentido, porque é que não pararam quietas, sempre a puxarem-me os pés, eu assim não consigo andar direita.. Eu pensei, o que é que há de diferente aqui, e apercebi-me, falta a JOANA!!! Uma pessoa não se sente bem quando está sozinha neste estado, quem mais poderá ver unicórnios cor-de-rosa... Pois, uma caixa de ovos não chega, preciso de duas!! Ainda por cima o halloween vem aí... Ficheiros secretos!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Limbo

Hoje foi tão fácil que não ias acreditar, esqueci-me completamente de anos da minha vida, que existias sequer. Os olhos já não sabem a sal mas agora a tua boca sabe a lixo, foi o preço que tive de pagar para te eliminar. Rapidamente as raízes da tua fala me apertaram o cérebro e ainda com mais velocidade o mataram. Quão baixo conseguimos descer? O limbo parecia um perfeito vício mas agora voltou tanto tudo ao normal que me vou tornar vegetariana, a tua carne comeu a minha e já não me posso alimentar da tua, nem de ninguèm. Passas de Johnn Lennon a Ringo Star no ápice.
A tua loucura de plástico é compatível com as barras de ferro do meu lado esquerdo, que agora me prendem a visão dos teus pulmões a encherem-se no rio. Essa loucura agarra-se ao teu corpo e não te deixa voltar à superfície, era tudo o que eu queria, ver-te vomitar os pulmões no clímax da tua vulnerabilidade.
Já nem sei quem foste, muito menos quem és.. Esforcei-me tanto para esquecer e agora não me consigo lembrar, nem de mim, e não podia ser mais perfeito.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Blurry

Hoje foi suportável, não foi perfeito como era, foi mais vazio, longe, desfocado. Odeio voltar ao real, a falsa razão do fim foi o que ajudou na continuação do inevitável, um inevitável demasiado intenso para ser chamado de continuação do que era. Quantas coisas tão más podem acontecer num dia tão bonito? Se fosse ao contrário seria mais aceitável, pareceu tudo demasiado cinematográfico, tudo tão perfeito que fui incapaz de te mostrar o que queria, a unica coisa que eu queria naquele momento era que aparecesse uma nuvem no céu. Arruinava toda aquela farsa de sentimentos, e eu conseguiria dizer o que queria. O cenário perfeito do fim? Sim, foi, não podia ser melhor se não fosse azul, mas não foi real. Tu não eras real, estavas desfocado e a tua vóz não podia vir mais de longe, eras como todas as pessoas que falavam comigo hoje, um borrão.
Os borrões são tão inuteis, só queremos que desapareçam quando estam lá, aproveitar a visão distorcida, mas quando os borrões desaparecem volta a realidade e precisamos deles para nos apagarmos.
Aquele impulso quase me fez cair e o abraço não podia ser mais libertador do impulso, ando a desesperar pelos raios de sol de ontem, esses fazem tudo, tu não fazes nada, quanto mais lá estás mais o vazio aparece, não és nada.. Se é assim que sempre foi só quero que desapareças, esconde-te na terra e conta os passos dos que te pisam, tens gente de mais a estragar-te a pele e não dizes nada, humanos que querem por metade não valem nada, eles querem-te por metade, tu queres-me por metade, eu quero tudo. Naquele momento em que queres tudo de volta, eu só quero que fiques com tudo o que de meu ficaste e devolver-te o que é teu. Odiar-te é uma boa maneira de te apagar, e pensei que fosse demorar mais tempo, amanha vai ser tão mais fácil, depois vai ser perfeito. Vai ser muito mais fácil apagar-te do que foi incluir-te. 

domingo, 17 de outubro de 2010

Prova lá que consegues fazer isto

Desde que tudo acabou, algo começou.. Futilidades são o que não falta, e o que há de mais fútil que um blog? Só te queria agora arrancar os braços e lamber-te os olhos. Na nossa vulnerabilidade completa, é aí que eu te conheço, e foi aí que nos perdemos.. Ser vulnerável assusta, quando não se sabe controlar, demasiado sal não é bom mas é aliciante, e pertuba-te a mente. Quando os arames me furaram os ombros senti-me completa como nunca me senti, pensei que desde que eles nunca saiam eu consigo-me manter em pé, mas tens que ser tu a puxá-los, eles são demasiado grandes e os meu braços demasiado pequenos. Largaste os arames porque viste os meus braços débeis, eles não conseguem agarrar nada, nem sequer tocam, e eu caí na merda com os ombros todos furados. Quando as mãos encontram as costas os braços sentem-se presos, fúteis. Voltámos atrás no tempo, adoraste arrancar-me os braços e lamber-me os olhos... Agora os meus olhos sabem a sal, e a boca sabe a lixo, enquanto que tu continuas perfeito e intocável na tua completa ascenção para o chão. Eu sei que o paradoxo é uma antitese, mas aquela cama fazia mesmo imenso barulho no teu corpo e dormir no sofá nunca soube tão bem, mesmo se me sufocares de amarelo. Cair naquele chão lixou-me os ombro todos, já completamente furados...